O presidente do grupo Obriverca ainda não foi notificado de qualquer investigação da Polícia Judiciária. Eduardo Martins reage assim à notícia do DN (edição do passado dia 15) segundo a qual alguns negócios do grupo empresarial estão a ser investigados, tanto pela PJ como pelos tribunais, por suspeita de diversas irregularidades. .Sobre o processo judicial relacionado com o empreendimento hoteleiro Mar da Califórnia - um imóvel edificado na orla costeira de Sesimbra que, segundo um relatório da IGAT, viola o Plano Director Municipal e a Reserva Ecológica Nacio-nal -, Eduardo Rodrigues afirma que "está parado há dois anos". Os inspectores da IGAT que instruíram o primeiro inquérito propuseram a nulidade do licenciamento emitido pela câmara, estando o processo pendente em tribunal. .Já quanto a um outro processo judicial, que decorreu em Vila Franca de Xira, o empresário não admite sequer a sua condenação em tribunal por ter ordenado o abate de quatro árvores, para permitir a construção de um edifício. "Fui condenado durante 30 segundos, o tempo que levou o meu advogado a dizer que ia recorrer." O crime foi amnistiado pelo Supremo Tribunal de Justiça dois anos depois..Durante a conversa com o DN, o empresário irrita-se uma única vez quando afiança que não há nenhum familiar do ex-sócio Luís Filipe Vieira a trabalhar nas suas empresas. O presidente do Sport Lisboa e Benfica (SLB), diz Eduardo Rodrigues, saiu da Obriverca em 1992, "mas ficou como administrador até 2001", data em que a filha mais nova (de Eduardo Rodrigues) "atingiu a idade para ocupar lugar na administração." .Agastado pela investigação do DN e por eventuais denúncias anónimas - que "não mereciam ser investigadas" pois, em seu entender, podem comprometer negócios em curso -, o empresário dá conta do desagrado com o que se está a passar em alguns municípios onde a Obriverca tem interesses. "Os nossos projectos são os que demoram mais tempo a aprovar", salientou, admitindo que o excesso de zelo possa acontecer devido à dimensão que, em duas décadas, foi conquistada pela empresa. Para contrariar os atrasos com os licenciamentos, Eduardo Martins reconhece já ter apresentado projectos em nome de terceiros, embora escudado em contratos-promessa. "Tudo legal", ressalva, assinalando a qualidade das urbanizações. "Só trabalho com os melhores. O Renzzo Piano (arquitecto do projecto dos Jardins de Braço de Prata) só aceitou trabalhar comigo, por reconhecer a qualidade.".A despeito de concordar que a Urbanização Real Forte, em Sacavém (foi "um sucesso de vendas"), o empresário refuta a ideia de que a comercialização dos apartamentos sem lugares de garagem tivesse dado vantagem à Obriverca. "Foi um benefício para as pessoas que podiam não ter disponibilidade financeira para adquirir ao mesmo tempo o apartamento e a garagem", justifica, reconhecendo, contudo, que hoje tal já não é possível, porque a lei obriga à inclusão dos lugares de estacionamento. .Ainda assim, no início das vendas do Real Forte "só 4% dos apartamentos foram vendidos sem garagens". A Câmara de Loures, recorda o empresário, exigiu 950 estacionamentos, mas o projecto contem- plou 1198, para 383 fogos". Num local pressionado pelo tráfego ro- doviário, o empresário afirma que ainda tem garagens para vender. "Umas 20, com um preço entre os 7500 e os 10 mil euros".Ao lembrar as suas origens humildes e de trabalho, o empresário, natural de uma aldeia de Castelo Branco, detentor de um império empresarial avaliado em 50 milhões de euros, distribuídos por mais de 40 empresas, sublinha que pouco tem de seu: "Tenho uma dívida de 100 milhões de contos à banca [500 milhões de euros]." Para a edificação do Real Forte, recorda, "a banca emprestou-me dinheiro a mim e não ao projecto". . A falência da Obriverca, diz, teria efeitos incalculáveis no tecido económico da região, já que "emprega cerca duas mil pessoas", embora a empresa-mãe tenha apenas um quadro de pessoal de 65. O sócio de Eduardo Rodrigues na Lismarvila, Simão Soares da Costa, além da coincidência do apelido, não tem ligação à construtora com o mesmo nome, garante o empresário.